segunda-feira, 12 de setembro de 2011

EUA SILENCIAM DIANTE DO 11 DE SETEMBRO DO QUAL FORAM CARRASCOS, 38 ANOS ATRÁS.



Nenhuma homenagem na imprensa aos vitimados
do 11 de setembro que acabou com as esperanças
de um povo e instaurou uma ditadura militar
sanguinárea

Antes de serem vítimas do 11 de Setembro de
Osama Bin Laden, os Estados Unidos foram
algozes num outro 11 de setembro, no Chile,
38 anos atrás. O golpe que derrubou o
presidente socialista Salvador Allende, com
apoio norte-americano, instaurou uma
ditadura brutal, responsável pelamorte de
seis mil pessoas e pelas torturas cometidas
contra 28 mil, na estimativa conservadora
dos registros oficiais.

Mas se lições ligam estes dois episódios, elas não foram
aprendidas. É o que disse ao Opera Mundi um dos
protagonistas desta data negra para o Chile, o cientista
político Heraldo Muñoz, de 63 anos, membro do breve
governo Allende. Hoje, Muñoz é subsecretário geral do
Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento),
em Nova York. Mas o cargo diplomático não o impediu de
fazer uma leitura crítica da política norte-americana.

“Estas duas histórias se comunicam pela porta dos fundos,
já que os EUA foram atores em ambos os casos”, disse Muñoz,
em entrevista concedida por email. “Primeiro, Washington
ajudou a perpetrar a violência no Chile contra um povo indefeso.
Mais tarde, os norte-americanos foram objeto da violência
fanática no 11 de Setembro de 2001, que também cobrou
vitimas inocentes. Mas não sei se a lição histórica – da
necessidade de respeitar irrestritamente os direitos humanos
– foi aprendida por eles”, afirmou.

Em 1973, Muñoz dirigia um ambicioso projeto idealizado por
Allende, chamado Almacenes del Pueblo (Armazéns do Povo),
uma rede que pretendia fazer chegar comida à população,
sem depender da intermediação dos empresários privados
do ramo. Na época, donos de supermercados e armazéns
faziam lockouts para esconder produtos alimentícios, como
forma de jogar o povo contra o governo da Unidade Popular
(UP) e forçar a derrubada de Allende, que, em resposta,
começou a confiscar e estatizar redes privadas de supermercados.

A radicalização do governo da UP – que também nacionalizou
o cobre, principal produto de exportação do Chile, e deu início
a uma profunda reforma agrária – encontrou resistência imediata
da direita. Em tempos de Guerra Fria, a ameaça representada
por um modelo socialista e democrático no que os EUA viam
como seu quintal, era algo inadmissível.

No dia 11 de setembro de 1973, o general chileno Augusto
Pinochet liderou o golpe de Estado contra Allende. O Palacio
de la Moneda, sede do governo, foi bombardeado por caças
da Força Aérea do Chile (Fach), enquanto atiradores
posicionados nos edifícios do centro de Santiago disparavam
contra os poucos membros da guarda presidencial, leais a
Allende. Cercado, o presidente fez seu último discurso,
transmitido pela rádio, antes de suicidar-se com o disparo no
queixo de um fuzil AK-47, presente do amigo cubano Fidel Castro.

“O 11 de setembro do Chile significou a perda da democracia e
a interrupção da aspiração de construir o socialismo por uma
na via pacifica, pela força dos votos”, analisou Muñoz. “O golpe
marcou as vidas de toda uma geração, em todo o mundo.
Uma vez, nos anos 1990, eu estive com a ex-primeira ministra
do Paquistão Benazir Bhutto, assassinada em 2007, e ela me
falou do impacto que o nosso 11 de setembro teve nas forças
progressistas paquistanesas neste momento, não apenas no
Paquistão, mas também em toda a Ásia e no mundo inteiro.”

Os EUA como algozes

O governo norte-americano – que travava, então, uma guerra
sem fronteiras contra o comunismo – viu no Chile o embrião
de uma experiência com potencial para levantar uma verdadeira
onda esquerdista na América Latina. A resposta de Washington
veio por meio do então chefe do Departamento de Estado no
governo de Richard Nixon, Henry Kissinger. “Não vejo porque
temos de esperar e permitir que um país se torne comunista
por causa da irresponsabilidade de seu próprio povo”,
afirmou Kissinger.

Um dia depois do golpe no Chile, Kissinger conversou com Nixon
sobre o ocorrido. “Há algo novo, que seja de importância?”,
perguntou o presidente. “Nada grave. A coisa do Chile é questão
de consolidação e, é claro, os jornais são sangue por todos os
lados porque um governo pró-comunista foi derrubado”, respondeu
Kissinger, antes de agregar: “no período de Eisenhower
(presidente norte-americano que forjou a doutrina segundo a qual
os EUA deveriam intervir em qualquer país do mundo que sofresse
influência soviética) teríamos sido heróis.” Nixon, receoso,
perguntou: “Bom, como você sabe, nossa mão não pode ser
detectada neste caso”. E ouviu de seu braço direito: “Claro. Não
há nenhuma dúvida disso. Eu me refiro ao fato de que nós os
ajudamos (trecho ilegível) a criar as condições mais favoráveis
possíveis”. Nixon encerra a conversa dizendo: “Muito bom. É o
que deveria ter sido feito.”

Mas Muñoz reconhece que o dramático golpe de 1973 também
provocou inevitavelmente respostas positivas da sociedade. “O
movimento global dos direitos humanos nasceu, em grande
medida, em resposta ao 11 de setembro chileno. Hoje, acredito
que a data lembra, além da dor da perda de vidas humanas e
violações dos direitos humanos, a necessidade de conjugar
mudanças sociais e consolidação da democracia”, disse.

A herança do 11/9

O Chile de hoje está construído sobre uma Constituição elaborada
durante a ditadura, nos anos 1980. O país é democrático. A Carta,
nem tanto. Ela “fossilizou” um sistema político binominal, como
disse o jornal britânico Financial Times há uma semana. Só
chegam a presidente os candidatos ligados aos dois grandes blocos
políticos existentes hoje. De um lado, a Concertação – que governou
o Chile por 20 anos, do fim da ditadura, em 1990, até o ano passado
– de outro lado, a Coalizión por El Cambio, que em março de 2010
venceu as eleições, dando início ao primeiro governo de direita no
Chile desde o fim do governo militar. E o primeiro de direita eleito
democraticamente no país em 50 anos.

Para o chileno Claudio Fuentes Saavedra, PhD em Ciência Política
pela Universidade da Carolina do Norte, a Constituição foi “um
exercício de engenharia institucional elaborada em 1980, que
transferiu a soberania popular a um corpo de representantes que,
embora sejam eleitos, na prática, podem alterar as normas básicas
de convivência nacional à margem de qualquer escrutínio cidadão”.

Prova disso é que o país amarga há quase quatro meses sua maior
crise política desde a redemocratização. Milhares de estudantes
pedem o fim do lucro na Educação e a melhoria da qualidade do ensino.

Apesar de ter o respaldo de 80% da população, estas propostas não
avançam. A Constituição proíbe a realização de referendos, plebiscitos
e outras consultas populares diretas, salvo sob condições bastante
estritas, como um impasse entre o Executivo e o Legislativo. Assim,
o país segue imobilizado. Mesmo com o governo tendo a aprovação
de apenas 26% dos chilenos.

Além da Constituição, os reflexos concretos do 11 de Setembro chileno
também são perceptíveis no sistema hiper privatizado. Não existe
nenhuma possibilidade de que um trabalhador chileno possa aderir hoje
a um sistema público de aposentadoria. A saúde também é
esmagadoramente explorada por planos privados. E nenhum estudante
tem direito a estudar em uma universidade pública gratuita, salvo se
conseguir acesso a uma bolsa de estudo.

O país levou a extremos inimagináveis o liberalismo econômico,
encarnado pela geração dos Chicago Boys, discípulos do Consenso
de Washington que fizeram do Chile um tubo de ensaio para uma
abertura econômica sem limites, ainda durante a ditadura.

O país tem crescido a uma taxa de 6% ao ano, mas é um dos mais
desiguais da América Latina. De acordo com Julio Berdegué, doutor
em Ciências Sociais e pesquisador do Centro Latino-Americano para
o Desenvolvimento Rural, quatro famílias do país detém o equivalente
ao salário de 80% da população. A principal delas é a do presidente
Sebastián Piñera, dona de uma fortuna avaliada em US$ 2,4 bilhões.
É incrível, mas é a pura verdade !!!!

Abraços !!!




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